Luminescência

Por Everton Bonturim

O interesse, desde a antiguidade, em materiais com propriedades de luminescência intrínseca tem contribuído para o desenvolvimento científico e tecnológico mundial. Existem relatos com mais de 2 mil anos sobre materiais fosforescentes, advindos de chineses e japoneses. Contudo, os primeiros documentos históricos, com redação científica, datam do início do século XVII sob autoria de europeus.
As primeiras observações, registradas no século XVII, a respeito da luminescência de materiais foram realizadas por um sapateiro da província italiana de Bologna. Vincenzo, ao promover um tratamento de redução do mineral barita (BaSO4) com carvão vegetal, observou que o produto (BaS) apresentava emissão de luz após ser exposto à radiação solar. Esse mineral logo passou a ser chamado de Pedra de Bologna e foi o marco para os primeiros registros do fenômeno posteriormente estudado por MontAlbano (1634), Licetus (1640), Marsiglius (1648); entre outros, tendo sido citado como emissão não-térmica de luz por Licetus. A emissão de luz após exposição à fonte de radiação é conhecida como Luminescência Persistente.
De acordo com a literatura, materiais luminescentes, normalmente chamados de fósforos, são sólidos que possuem a capacidade de transformar alguns tipos de energia (eletromagnética, feixe de elétrons, diferença de potencial, mecânica, etc) em radiação eletromagnética com comprimento de onda acima da radiação térmica. 
Geralmente, a maioria dos materiais luminescentes emite radiação eletromagnética na faixa de comprimento de onda do espectro visível (400 < λ < 700 nm), contudo, em alguns casos também emitem radiação em comprimentos de onda característicos do ultravioleta (λ < 400 nm) ou infravermelho (λ > 700 nm).

O processo de luminescência da maioria dos materiais que possuem essa propriedade envolve a absorção e/ou transferência de energia, fornecida por uma fonte de exposição. A absorção e/ou transferência de energia se dá por intermédio de um íon característico (espécie ativadora), chamado de centro emissor, incorporado em uma matriz. Tendo sido excitado, o íon sofre decaimento emitindo radiação de menor energia que a fonte incidente, salvo exceções como as conversões ascendentes. Em alguns casos, o íon ativador não apresenta configuração capaz de absorver a energia de excitação direta, então é utilizado um íon sensibilizador que absorve essa energia e a transfere para o centro emissor que então decai emitindo luz, como pode ser observado na Figura 1.

Figura 1 - Esquema de emissão de um íon ativador (A) em uma matriz a) sem e b) com um íon sensibilizador (S)
No comportamento espectroscópico dos materiais luminescentes, algumas características são exclusivas da matriz hospedeira, tais como o band gap que caracteriza a estrutura dos níveis de energia entre as bandas de valência e de condução; o fator de covalência, que se relaciona diretamente com a interação entre elétrons, sendo determinada pelo efeito nephelauxetic; e a força do campo cristalino que envolve fenômenos de interação coulombiana entre os átomos da rede cristalina e os orbitais dos íons dopantes incorporados na matriz.
 O estudo aprofundado das características do band gap podem trazer informações importantes sobre a estrutura cristalina do material e seu comportamento no que diz respeito a propriedades estruturais, ópticas e magnéticas. Como a energia do band gap (Eg) é a diferença entre as energias características da banda de valência (BV) e da banda de condução (BC) de um material, a mesma serve de indicativo para determinar se o material é um sistema isolante, semicondutor ou condutor. O estudo dessas energias que resultam da caracterização espectroscópica do material pode ser feito por técnicas de espectroscopia de absorção, excitação ou reflectância difusa. Em alguns casos, quando a energia de band gap é grande, técnicas como a de espectroscopia de excitação UV-UV no vácuo, com maiores energias, são necessárias.
A terminologia que descreve fenômenos relacionados com emissão de radiação acima da radiação térmica passa por entraves literários no que diz respeito ao uso correto dos termos que designam os tipos diferentes de casos. Há documentos na literatura que descrevem mecanismos diferentes entre fluorescência, fosforescência, luminescência, sem contar seus adjetivos, tais como persistência, longa-duração, curta-duração, termos como afterglow etc
O fenômeno de emissão de radiação é genericamente conhecido como luminescência, este termo se associa com os termos fluorescência e fosforescência aos quais são atribuídos conceitos distintos. Enquanto a fluorescência é o termo aplicado ao mecanismo de emissão de luz que envolve um sistema de dois níveis (absorção e emissão), a fosforescência se aplica aos sistemas com três níveis (absorção, estado de aprisionamento e emissão), como pode ser visto no esquema da Figura 2.
Figura 2 - Diagrama de níveis de energia para mecanismos de a) fluorescência e b) fosforescência.
Por muito tempo, o fenômeno de luminescência era atribuído especificamente como característica de substâncias com base nos sulfetos. No século XIX, se iniciaram estudos mais intensos sobre fósforos, principalmente após a descoberta do sulfeto de zinco (ZnS) produzido por Theodore Sidot em 1866. Após esse período, outros cientistas, em especial Philip E. A. Lenard, passaram a estudar a influência da dopagem com íons metálicos nos materiais luminescentes e perceberam uma considerável melhora na eficiência de emissão. Com isso, suas pesquisas adquiriram relevância na comunidade científica e, posteriormente, alguns compostos dopados com metais alcalinos desenvolvidos por Philip, tais como ZnS:Cu+ passaram a ser denominados Fósforos de Lenard.

Encontram-se na literatura, diversos estudos sobre a eficiência de emissão de matrizes dopadas. Como exemplos, citam-se os estudos de Abbruscato (1971) e Matsuzawa (1996) que contribuíram para o entendimento da resposta de emissão dos luminóforos SrAl2O4:Eu2+,  SrAl2O4:Eu2+:Dy3+ e SrAl2O4:Eu2+:Nd3+. De fato, compreender a importância das estratégias de dopagem e co-dopagem de matrizes cristalinas para aumentar o tempo de decaimento nas curvas de emissão, fenômeno físico que explica a propriedade de luminescência, é de grande importância no campo de materiais ópticos.



Referências

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